sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"Perto do selvagem coração da vida.”





Não havia desencanto ainda diante de seus próprios mistérios, ó Deus, Deus, Deus, vinde a mim não para me salvar, a salvação estaria em mim, mas para abafar-me com tua mão pesada, com o castigo, com a morte, porque sou impotente e medrosa em dar o pequeno golpe que transformará todo o meu corpo nesse centro que deseja respirar e que se ergue, que se ergue... o mesmo impulso da maré e da gênese, da gênese!*



***



Sinto-me invadida, como se uma tsunami tivesse devorado-me com total força e reduzido-me a quase nada...
Pois parece-me que a vida, esta sim, só chegou agora e tudo que eu vivi anteriormente não passava de um ensaio o qual eu participei tanto quanto protagonista em minha história, como coadjuvante nas histórias de outrens...

E assim, como se a grande onda tivesse tragado-me dos pés à cabeça eu estou.

Engolida.

Absorvida.

Em transe.

Em câmera lenta, nunca parada.


***



Ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a
incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.*



P.S*.:Retirado de Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector.
O que não é nenhuma novidade e que acabou...Os trechos são das últimas páginas e sãos os que mais me comovem.

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